Visão do CEO

Emprego e trabalho: a transformação da relação dos jovens com o mercado

Por EDC Group | Publicado em 07/01/2025
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A forma como as pessoas enxergam suas relações com o mundo do trabalho mudou significativamente ao longo das gerações. De acordo com um levantamento realizado pela empresa de soluções de benefícios Caju, em parceria com a Consumoteca, companhia de estudos sobre comportamento humano, apenas 19% dos jovens desejam ter uma carreira no mundo corporativo.  Ao mesmo tempo, para 84% dos respondentes da Geração Z, a estabilidade financeira é a maior preocupação, mas 56% deles pediriam demissão se o trabalho interferisse na vida pessoal.

Para as gerações mais antigas, o sonho era conseguir um emprego estável, construir uma carreira e, com isso, garantir segurança financeira e reconhecimento ao longo do tempo. Esse vínculo emocional com o emprego era forte e envolvia sacrifícios na busca de um reconhecimento a longo prazo.

Já para as gerações mais jovens, como Millennials e Geração Z, a lógica é outra: não há tanta preocupação em "ter um emprego", mas sim em "ter trabalho". Agora, o pensamento é ganhar dinheiro para viver a vida de forma imediata e flexível, sem os compromissos que uma “carreira de sucesso” impõe.

Essas mudanças de prioridades entre as gerações revelam uma diferença profunda entre os conceitos de "emprego" e "trabalho", que vou explorar a seguir.


“Ter um Emprego": Estabilidade e Carreira

Nas gerações anteriores, ter um emprego estava associado a mais do que apenas uma fonte de renda. Era, acima de tudo, uma questão de status e de pertencimento a um grupo específico dentro de uma empresa ou organização. O emprego oferecia um sentido de estabilidade, continuidade e a promessa de crescimento profissional, que se consolidava ao longo dos anos. Esse vínculo emocional incentivava o trabalhador a fazer sacrifícios em troca de recompensas futuras.

Era e ainda é comum que, para garantir essa trajetória de longo prazo, as pessoas aceitassem salários iniciais mais baixos, jornadas de trabalho mais longas ou desafios relevantes. Isso fazia parte de um "pacto" implícito entre o empregador e o empregado: em troca de lealdade e esforço, o trabalhador podia esperar promoções, benefícios e, eventualmente, uma aposentadoria confortável. Nesse cenário, o investimento em educação formal, como faculdades e especializações, era considerado fundamental, pois garantia a entrada e a ascensão nesse caminho de carreira.

O conceito de carreira só faz sentido nesse contexto. O emprego traz consigo a ideia de progressão, de seguir etapas claras, e essa visão de longo prazo molda a forma como os trabalhadores mais antigos se relacionam com o trabalho. Para eles, o emprego não é apenas uma forma de ganhar dinheiro, mas uma parte essencial de sua identidade e de seu plano de vida.


"Ter um Trabalho": Flexibilidade e Imediatismo

Em contraste, as gerações mais jovens – como a Geração Z – têm uma abordagem muito diferente. Para elas, o trabalho é visto de forma mais utilitária: uma maneira de ganhar dinheiro para sustentar seu estilo de vida, sem as amarras emocionais ou expectativas de longo prazo associadas ao emprego. O trabalho é uma atividade que se faz, muitas vezes sem compromisso de continuidade, com o foco em resultados rápidos. A regra de remuneração é muito mais imediatista – o jovem busca recompensas financeiras que permitam aproveitar o presente, em vez de sacrificar o agora em nome de um futuro distante.

Nesse contexto, não há necessariamente uma "carreira" a ser construída, com toda a ideia em volta dela não exercendo o mesmo apelo. Muitos jovens estão dispostos a "se apertar" por algum tempo, pegar trabalhos temporários ou freelances que gerem dinheiro rápido, sem a intenção de seguir um caminho específico. Em vez de pensar em uma trajetória de carreira que exige anos de dedicação, a preferência é por flexibilizar as escolhas, focando em diferentes formas de trabalho que possibilitem equilíbrio entre ganhar dinheiro e viver experiências.

Um estudo da Fiverr, plataforma de serviços online que conecta freelancers e clientes, em parceria com a Censuswide, revelou que quase 70% da Geração Z são freelancers ou planejam ser. Os motivos para trabalhar dessa forma variam, de acordo com a pesquisa: 44% querem ter conforto financeiro, 30% desejam viajar a trabalho e trabalhar de qualquer lugar, 25% querem ter seu próprio negócio e 20% querem se aposentar mais cedo.

Outro aspecto dessa nova mentalidade é a desvinculação emocional em relação ao trabalho. Enquanto nas gerações anteriores o emprego era uma parte significativa da identidade pessoal, hoje o trabalho é apenas um meio para um fim. A vida pessoal e o tempo livre têm maior valor para os jovens de hoje do que a progressão dentro de uma organização. Em vez de se dedicarem a uma única empresa por muitos anos, esses trabalhadores preferem a liberdade de mudar de trabalho, explorar diferentes setores e, quando necessário, buscar novas formas de gerar renda.
 

Vínculo emocional e felicidade

O vínculo emocional é uma distinção crucial entre o conceito de emprego e trabalho. No emprego, o vínculo é mais profundo, levando o indivíduo a comprometer-se não apenas com a empresa, mas com a própria ideia de construir algo para o futuro. Por outro lado, no trabalho, esse vínculo emocional é mínimo ou inexistente, se tratando de uma troca objetiva de tempo e esforço por dinheiro.

Outro ponto importante é que muitos integrantes da nova geração estão simplesmente felizes em apenas ter trabalho, sem as amarras de construir uma carreira formal. Esse contentamento é derivado da simplicidade da relação entre trabalho e recompensa. Ao não se preocupar com a trajetória de carreira, eles evitam as pressões de expectativas de longo prazo e podem focar em viver o presente de maneira mais plena.

De acordo com outro levantamento do Grupo Cosmoteca, 60% da geração Z trabalha pensando em estabilidade financeira, diferentemente dos millenials, que geralmente trabalham motivados por propósito. Entretanto, 43% deles afirmam que desejam atuar em uma empresa que reconheça seus esforços e sejam recompensados por isso, geralmente de uma maneira que os ajude nas conquistas materiais, como aquisição da casa própria (71%), um carro (60%) e viajar todo ano (47%).

Essa diferença de perspectiva também influencia decisões como cursar ou não uma faculdade, por exemplo. Se, no passado, a educação superior era vista como uma porta de entrada para uma carreira estável e de longo prazo, hoje muitos jovens estão questionando se vale a pena fazer esse investimento, ou podem partir para alternativas mais curtas e diretas, como cursos profissionalizantes ou técnicos. Se o objetivo é apenas trabalhar para viver, e não construir uma carreira tradicional, muitas vezes a faculdade é vista como um gasto desnecessário.


Caminhos Distintos, sem certo ou errado

A diferença entre ter um emprego e ter um trabalho reflete uma mudança cultural significativa entre as gerações. Compreender essa alteração é essencial para as empresas e os gestores de recursos humanos que desejam se conectar com a nova geração de trabalhadores.

Para se adaptar, podemos repensar práticas de gestão, programas de desenvolvimento e até mesmo as próprias definições de sucesso dentro das culturas da empresa. Reconhecer essas diferenças se torna fundamental para criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e satisfatório, onde os indivíduos se sentem respeitados em seus valores e escolhas de vida, algo fundamental e sempre destacado pela geração mais nova.

Ou seja. Tentar moldar os jovens aos conceitos tradicionais de carreira é errôneo. Na verdade, as organizações podem adotar uma abordagem que valorize as contribuições imediatas e projetos de curto prazo. Essa adaptação será crucial para construir equipes motivadas e sustentáveis em um mercado de trabalho que continua a evoluir. Afinal, o que os jovens valorizam hoje pode não ser o que os trabalhadores de ontem buscavam.


Por Daniel Campos Neto
Daniel Campos Neto é especialista em Recursos Humanos e presidente da EDC Group, multinacional brasileira com atuação na área de consultoria em RH e Gestão de Pessoas, recrutamento e seleção.

Sobre a EDC Group
A EDC Group é uma multinacional brasileira com atuação em toda a América Latina e EUA, na área de consultoria e outsourcing de serviços. Com mais de 14 anos de atuação no mercado, a empresa oferece serviços de outsourcing especializado, mão de obra temporária, hunting, BPO e projetos especiais, para as áreas de Engenharia, Manufatura, Logística, Agroindustrial, Telecomunicações, Serviços e Saúde, visando fornecer o profissional adequado a necessidade da empresa, proporcionando a cada colaborador a oportunidade de crescimento e desenvolvimento. Com sede em São Paulo (SP) e filiais em Indaiatuba (SP) e Troy Michigan (EUA), a EDC conta com mais de 300 colaboradores para atender clientes como Siemens, Mercedes-Benz, John Deere, AGCO, ZF, entre outros.
Saiba mais:  https://www.edcgroup.com.br

 

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Nova Lei de Saúde Mental nas Empresas: O Que Você Precisa Saber

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Em resposta a essa realidade alarmante, foi sancionada a Lei 14.831/2024, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental. Essa certificação, concedida pelo governo federal, reconhece empresas que implementam políticas eficazes de promoção da saúde mental e bem-estar de seus colaboradores.

Embora a obtenção do certificado seja opcional, a legislação sinaliza uma tendência crescente de valorização da saúde mental no ambiente corporativo. Empresas que negligenciam essa questão podem enfrentar desafios relacionados à produtividade, aumento do absenteísmo e dificuldades na retenção de talentos. Além disso, atualizações em normas regulamentadoras, como a NR-1, exigem que as companhias analisem a saúde mental dos funcionários e implementem medidas preventivas contra situações de assédio e violência no trabalho.

O não cumprimento dessas normativas pode resultar em sanções e prejudicar a saúde organizacional.​

Para se adequar às exigências e promover um ambiente de trabalho saudável, as empresas devem:​

  • Implementar Programas de Saúde Mental: Desenvolver iniciativas que ofereçam suporte psicológico, promovam a conscientização sobre saúde mental e capacitar lideranças para identificar e lidar com questões emocionais.​
  • Oferecer Recursos de Apoio: Disponibilizar acesso a serviços de apoio psicológico e psiquiátrico para os colaboradores, facilitando o tratamento e prevenção de transtornos mentais.​
  • Combater a Discriminação e o Assédio: Estabelecer políticas claras e eficazes para prevenir e lidar com casos de discriminação e assédio no ambiente de trabalho.​
  • Promover Transparência e Prestação de Contas: Divulgar regularmente as ações e políticas relacionadas à promoção da saúde mental, mantendo canais abertos para sugestões e avaliações dos colaboradores.​

Colaboradores também desempenham um papel crucial nesse processo. Eles podem cobrar de suas empresas a implementação dessas práticas por meio de diálogos com departamentos de Recursos Humanos, participação em comitês internos ou, se necessário, buscando orientação em órgãos de defesa dos trabalhadores.​

A implementação da Lei 14.831/2024 representa um avanço significativo na valorização da saúde mental no ambiente corporativo brasileiro. Empresas que adotarem práticas alinhadas às novas diretrizes não apenas estarão em conformidade com as tendências atuais, mas também promoverão um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo, beneficiando tanto a organização quanto seus colaboradores.


 

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